(FOLHAPRESS) – A expansão do Metrô de São Paulo provoca nova disputa entre moradores de zonas residenciais da cidade e os planos do poder público de avançar com a infraestrutura urbana nesses territórios.
O tema da vez é o traçado da futura Linha 20-rosa e a sua passagem pelos Jardins, conjunto de bairros da zona oeste conhecidos pela concentração de casas de alto padrão em ruas arborizadas.
Ainda na fase de anteprojeto de engenharia -uma das primeiras etapas de estudo-, a proposta para a nova via metroviária de 31 km entre a Lapa (zona oeste) e Santo André (cidade da região metropolitana) prevê 24 estações.
Um das rotas estudadas preocupa moradores porque em esboços que circularam por aplicativos de mensagens apontavam a construção de grandes poços de ventilação e saída de emergência nas praças Gastão Vidigal (também conhecida como praça do Ovo) e Morungaba, que estão entre as mais frequentadas pelos residentes do entorno.
Um proprietário de uma casa que aparece na rota de desapropriações disse que a vizinhança está apavorada. Entre as queixas, a principal é quanto à ausência de ampla divulgação da proposta e suas consequências.
O Metrô, que é subordinado ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), informou à reportagem ter realizado audiência pública neste ano com moradores e que modificou os locais inicialmente previstos para as intervenções, que passaram para a alameda Gabriel Monteiro da Silva e para a própria Faria Lima, preservando as praças.
A proposta também descartou a construção da estação Jardim Europa, dentro do bairro, e optou por manter uma parada próxima, na rua Tabapuã, no Itaim Bibi.
Detalhes do projeto serão apresentados nesta sexta-feira (12) pelo Metrô a integrantes da Ame Jardins, a associação local de moradores. Integrantes do grupo disseram à reportagem nesta quarta (11) que aguardam a prestação de informações antes de manifestarem uma posição sobre o projeto.
Embora defenda a preservação das características residenciais do bairro, a associação tenta evitar uma oposição institucional à expansão do transporte e, assim, fugir da pecha de elitista.
A presença de bairros ajardinados de alto padrão em áreas centrais da capital paulista conflita com interesses do poder público, que busca maior adensamento populacional nas áreas mais abastecidas com empregos e transporte.
Há também elevado interesse do mercado imobiliário em levar para esses locais condomínios mais alinhados com os desejos de consumidores de alta renda, que não querem arcar com os custos de manutenção e impostos dos atuais casarões, mas que poderiam pagar por unidades um pouco menores.
Os Jardins, porém, estão entre os locais da cidade que contam com uma série de proteções contra alterações das suas características, entre as quais estão tombamentos por órgãos de preservação do patrimônio quanto ao traçado de suas ruas, uso restrito dos lotes e preservação da cobertura vegetal.
É por isso que, enquanto moradores do vizinho Pinheiros acompanharam demolições em série de casas para dar lugar a prédios, os jardins América, Europa, Paulista e Paulistano passaram imunes à verticalização.
Desde 1986 o tombamento pelo Condephaat (conselho estadual de defesa do patrimônio) proíbe edificações com altura superior a dez metros na maior parte da região. O órgão discute no momento, porém, uma alteração que permite a ocupação dos lotes por mais de uma família. Isso facilitaria a criação de condomínios horizontais no bairro.
A ocupação exclusivamente residencial na maior parte das ruas dos Jardins ainda prevalece por imposição da Lei de Zoneamento. Na revisão realizada no ano passado, a Câmara Municipal chegou a propor a ampliação do tipo de atividade empresarial em algumas das poucas vias do bairro em que o comércio é permitido.
A ideia criou uma disputa entre proprietários de imóveis que pediam mudanças no zoneamento, em busca de valorização de suas propriedades, e aqueles que defendiam a manutenção das regras atuais. No fim da discussão, apenas alterações pontuais ocorreram.
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