PATRÍCIA CAMPOS MELLO
NOVA DÉLI, ÍNDIA (FOLHAPRESS) – Em mais uma das projeções erradas das pesquisas de boca de urna da eleição da Índia, o deputado acusado de estuprar e filmar dezenas de mulheres não foi reeleito.
Prajwal Revanna, 33, do partido Janata Dal, da coalizão do primeiro-ministro Narendra Modi, perdeu sua vaga no estado de Bangalore para o candidato oposicionista Shreyas Patel, do Partido do Congresso. Foi a primeira vez que a sigla perdeu no distrito de Hassan em 20 anos.
Revanna concorreu à reeleição de dentro da prisão, onde está desde 1º de junho. O ex-motorista dele vazou um pen drive contendo 1.280 vídeos de relações sexuais com ao menos 70 mulheres, alegadamente filmados no celular pelo próprio deputado. Nas vésperas da votação em seu estado (Karnataka), pen drives com os vídeos foram deixados em assentos de ônibus e bancos de parques e acabaram viralizando.
Várias das mulheres retratadas nos vídeos deram depoimentos em redes sociais acusando Revanna, que é neto do ex-primeiro-ministro da Índia H. D. Deve Gowda (1996-1997), de ter forçado as relações sexuais.
A polícia já o indiciou em três casos de estupro e abuso sexual –em um deles, o político é acusado de violentar sistematicamente uma ex-empregada de sua casa de mais de 60 anos. Seu pai, que é deputado estadual, é acusado de manter a vítima em cárcere privado. Em outro caso, ele e o pai, que também está preso, são acusados de abusar sexualmente de uma empregada.
Revanna ficou 33 dias foragido na Alemanha e foi preso assim que voltou a Bangalore, na Índia, na sexta-feira (31). Em vídeo, ele afirma que as acusações são falsas e os vídeos são editados e fazem parte de uma conspiração. O deputado, que está suspenso de seu partido, também diz que entrou em depressão.
Depois que os vídeos sexuais começaram a circular pelo WhatsApp, algumas das vítimas relataram ao jornal indiano Indian Express que não saem mais de casa.
Segundo levantamento da Associação para Reformas Democráticas e do National Election Watch, 18 candidatos nas eleições indianas de 2024 foram indiciados por crimes contra mulheres (abuso sexual e estupro, entre outros).
Um dos candidatos, o deputado do BJP (Partido do Povo Indiano, legenda de Modi) Brij Bhushan Sharan Singh, abriu mão da candidatura em favor do filho, Karan, após ser acusado de assédio sexual por atletas da Federação Indiana de Luta Livre.
Sete atletas, uma delas menor, denunciaram Brij à polícia por supostamente tocar em seus seios e umbigos e exigir favores sexuais enquanto ele era presidente da federação. Há uma investigação em curso contra o deputado, que nega as acusações. O filho Karan, que é vice-presidente da federação de Luta Livre, se elegeu.
A Índia tem registrado inúmeros casos de estupro coletivo contra mulheres, inclusive um neste ano, contra uma brasileira.
Em 2022, o Escritório Nacional de Registros Criminais da Índia contabilizou 31.516 estupros. As cifras, relativamente baixas em comparação com outros países (no Brasil, foram 74.930 no mesmo ano), são considerados subnotificadas. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde da Índia, apenas 1% dos casos de estupro são reportados às autoridades por causa do estigma social e da abordagem policial.
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