ANAHI MARTINHO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Trinta anos após o assassinato de Nicole Brown Simpson, ex-mulher de O.J. Simpson, um novo documentário pretende recontar a história sob outra perspectiva: a da vítima.
“A Vida e a Morte de Nicole Brown Simpson” estreia neste domingo (3) no canal pago Lifetime. A série documental, em quatro episódios, traz depoimentos de 50 entrevistados, incluindo amigos e familiares de Nicole que nunca haviam aparecido na mídia.
Em junho de 1994, O.J. Simpson, ídolo do futebol americano, foi acusado de matar a ex-mulher e um amigo dela, Ronald Goldman. Seu julgamento, o primeiro tribunal midiático da história, o absolveu.
Em 1997, porém, o jogador foi considerado culpado pelos assassinatos em um processo civil movido pelas famílias das vítimas e condenado ao pagamento de uma indenização milionária. O.J. Simpson morreu livre, em abril deste ano, aos 76 anos.
Em evento com a imprensa latino-americana do qual o F5 participou, Denise Brown, irmã de Nicole, conta que a diretora do documentário, Melissa Moore, tentou por dez anos convencer a família a fazer o projeto. “Ela me disse: ‘Adoraríamos saber quem era Nicole além de uma vítima de assassinato que jazia na maca'”, lembra a irmã.
Além de mostrar a história da jovem, que começou a namorar O.J. aos 18 anos (ele tinha 30) e morreu com 35, outro foco do documentário é a suposta violência doméstica sofrida por ela antes do seu assassinato. Durante 17 anos, Nicole escondeu da família os abusos que sofria, segundo a irmã.
CICLO DA VIOLÊNCIA
“Se você fosse a um primeiro encontro e a pessoa batesse à sua porta, você abrisse e ele te desse um soco no rosto, você sairia novamente com ele?”, pergunta Denise. É assim que ela explica o mecanismo da violência doméstica, assunto no qual se tornou especialista e ativista após a tragédia familiar. “É tudo muito sutil”, diz.
“Primeiro ele te pergunta: ‘Que batom é esse? Por que essa saia tão curta? O que está tentando fazer, conseguir outro namorado?’. E nós mulheres temos essa tendência de querer agradar, queremos acreditar que a pessoa nos ama. Depois passa para o abuso verbal, como: “Cala a boca. Por que está olhando? Por que está falando com aquele cara? O que está fazendo com esses amigos? Quer sair com suas amigas? Não quer estar comigo? Pensei que me amasse'”, descreve.
Segundo Denise, é ineficaz insistir com uma vítima de violência doméstica para que ela saia da relação. Quando visitou a irmã em Buffalo, nos anos 1980, no início do namoro dela com O.J., Denise presenciou uma briga do casal.
Segundo ela, Nicole cumprimentou um amigo europeu com um beijo no rosto, o que enfureceu o jogador. Na ocasião, Denise tentou convencer a irmã a romper o relacionamento e voltar com ela para Nova York.
“Eu disse: ‘O que você está fazendo com esse cara? Você tem que deixá-lo’. Mas não podemos arrastar um adulto para fora de uma relação violenta. Anos depois é que entendi como funciona. Fazer isso só isola e afasta a pessoa, que não vai querer ouvir essas coisas porque está presa nesse pesadelo”, explica.
‘NUNCA PENSEI QUE ELE FOSSE MATAR MINHA IRMÃ’
Mesmo percebendo que havia algo estranho no comportamento da irmã, Denise nunca imaginou que essa violência seria fatal. Ela lembra que, durante o tempo que viveu com O.J., Nicole perdeu oito gatos e três cachorros, dois deles afogados na piscina.
“Havia muitas coisas sombrias acontecendo na vida dela. Um agressor, como sabemos, ameaça membros da família. Não sabemos o que aconteceu, mas sabemos que agressores fazem coisas assim”, diz ela. “Ainda assim, nunca em um milhão de anos eu pensei que esse homem pudesse matar minha irmã.”
‘FIQUEI FELIZ QUANDO ELE MORREU’
Questionada sobre perdão no evento com a imprensa, Denise foi sincera: ‘Não sou a pessoa certa para falar sobre isso porque não o perdoei, não perdoarei e nunca esquecerei. Quando alguém comete algo tão atroz e horrível, simplesmente não consigo”, disse. Ela relata ainda que comemorou a morte de O.J.
“Fiquei feliz quando ele morreu, mas minhas duas irmãs tiveram uma perspectiva diferente. Elas pensaram nos nossos sobrinhos, Sydney e Justin [filhos de Nicole e O.J.], que agora não têm ninguém”, conta. “Nicole não teve a chance de ver seus filhos crescerem, se formarem no ensino médio, se formarem na faculdade, terem filhos. Não teve a chance de ser avó”, diz Denise, emocionada.
Com o lançamento do documentário, ela espera educar os telespectadores para que cada vez menos famílias precisem passar pela mesma dor. “Quanto mais falarmos sobre a violência doméstica, mais as pessoas serão educadas sobre isso”, diz Denise. “Minha denúncia é para que não ocorra uma tragédia em outra família como ocorreu na nossa, para que as mulheres parem de ser assassinadas.”
“O amor não deve machucar. As pessoas que te amam não querem te controlar, não te menosprezam, não te insultam. Não te chutam, não te batem, não te socam”, diz. Dirigida por Melissa Moore, de “As Confissões de Gypsy Rose”, a série estreia no domingo (3) no Lifetime às 22h30.
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