SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “É incrível poder trazer esse título e fazer parte do grande número de medalhas trazidas pelas mulheres”, disse Beatriz Souza ao retornar ao seu clube, em São Paulo, após as Olimpíadas. Das 14 medalhas somadas pelo Brasil em Paris-2024 até o momento, nove foram conquistadas por mulheres, além do bronze levado pela equipe mista no judô.
De volta ao Brasil nesta quarta-feira (7), Bia foi ovacionada por judocas mirins e membros do Pinheiros ao entrar no auditório da clube paulista. “Espero que [esse ouro] sirva de incentivo para todas: nós somos, sim, capazes de conquistar o mundo”, ela afirmou aos jornalistas presentes.
Também estavam lá os medalhistas de prata Willian Lima e de bronze Larissa Pimenta, ambos judocas do mesma agremiação.
O ouro de Beatriz Souza foi o primeiro do Brasil nesta edição dos Jogos Olímpicos. Ela surpreendeu favoritas da categoria acima de 78 kg, como a francesa Romane Dicko, de quem venceu por ippon na semifinal, e derrotou a israelense Raz Hershko com um waza-ari para se coroar campeã olímpica.
Antes, nas quartas, por pouco ela não deu adeus à competição. O árbitro havia marcado um ippon no golden score para a coreana Kim Hayun, mas a revisão por vídeo identificou um golpe dado por Bia e garantiu a classificação à brasileira.
Willian Lima ficou com a prata na categoria até 66 kg após ser derrotado por um ippon do japonês Abe Hifumi, que defendia o título olímpico. O bronze na categoria feminina até 52 kg, de Larissa Pimenta, veio com a vitória sobre a italiana Odette Giuffrida, que recebeu três punições.
A delegação brasileira do judô chegou de manhã no aeroporto de Guarulhos.
Segundo Larissa, o carinho foi tanto na recepção que ela não cumpriu um hábito comum ao desembarcar no aeroporto: comer um pão de queijo e tomar um açaí com laranja. “Saímos [no desembarque] e a Bia falou ‘Não vai ser hoje que você vai conseguir fazer isso’. O carinho compensou meu pão de quejio e meu açaí”, brincou ela.
A medalhista de bronze ressaltou a importância do trabalho psicológico profissional para seu resultado. Contou ter se sentido confusa e insegura na véspera das finais, mas recuperado a confiança após conversar com sua psicóloga. “Ela me fez voltar às minhas origens e lembrar como eu cheguei lá. Isso fez eu me sentir merecedora antes de pisar no tatame.”
Willian também compartilhou uma dica preciosa que recebeu de uma amiga para melhorara sua condição psicológica para a disputa. “A Beatriz uma vez me falou que o dia da competição era o dia mais feliz da vida dela, que o difícil e dolorido eram os treinos. Aquilo fez total sentido”, afirmou o medalhista, que contou ter feito junto a sua equipe uma preparação específica para cada judoca que enfrentaria. Como ele era cabeça-de-chave, sabia quais seriam seus possíveis adversários.
“A gente treina a vida toda, dedica muito tempo a isso, sonha em estar em Olimpíadas. Quando chega lá a gente vai perder para a nossa cabeça? O judô é meu sonho, então ao competir eu estou realizando meu sonho.”
Aos 24 anos, o judoca destacou a influência de gerações anteriores para o início de sua carreira no esporte. “Lembro de acordar cedinho com minha mãe e meu pai para assistir ao judô nas Olimpíadas. Assim como assistir Leandro Guilheiro [bronze em Atenas-2004 e em Pequim-2008] e Maria Suelen [quinto lugar em Londres-2012], essa [minha] medalha também é uma oportunidade de eu mudar várias vidas.”
Ao falar sobre possibilidades de medalhas nas próximas Olimpíadas, em Los Angeles, Bia preferiu manter uma certa cautela. “Vamos trabalhar muito para isso. Parece estar longe, mas logo está aí. Precisamos primeiro buscar as vagas; depois a gente vê as medalhas.”
Ainda houve tempo para ela revelar outros talentos. A campeã olímpica disse gostar muito de cozinhar, apesar de demorar para concluir pratos simples. Seu ponto forte fora dos tatames? Costelinha. “Fica bom, gente, realmente fica bom.”
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