(FOLHAPRESS) – As mortes no trânsito em São Paulo dispararam no primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2023. Em todo o estado, o crescimento no número de mortos em estradas ou vias urbanas subiu 23,1% entre os dois períodos, passando de 2.436 para 2.999 óbitos.
Na capital paulista, a alta foi maior, de 31,6% -passou de 395 para 520 mortes, também com dados analisados nos seis primeiros meses de 2023 e de 2024.
Quando se comparam apenas os dois últimos meses deste ano, as mortes avançaram na capital (94 em maio e 111, em junho), mas recuaram no geral do estado (562 e 556, respectivamente).
Os dados são do Infosiga, sistema de monitoramento de letalidade no trânsito do governo paulista, atualizado nesta quarta-feira (24).
De acordo com o Ministério dos Transportes, o aumento da frota de veículos nas ruas foi menor. Subiu 3% na soma de todos os municípios paulistas, indo de 32,8 milhões para 33,8 milhões, 4,3% na capital -passou de 9,3 milhões para 9,7 milhões).
Para Sérgio Avelleda, coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq. Futuro de Cidades do Instituto de Ensino e Pesquisa Insper, as recentes flexibilizações nas regras de trânsito, que proibiram o uso de radares móveis em áreas urbanas e aumentaram o número de pontuação na CNH (Carteira Nacional de Habilitação), criaram um ambiente de sensação de impunidade.
“A falta de fiscalização convida a um comportamento perigoso”, afirma o especialista, citando o desligamento de radares nas estradas, a falta de investimento nesses equipamentos na cidade de São Paulo e a queda no número de agentes na capital -conforme mostrou a Folha de S.Paulo, o número desses profissionais na CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), responsável pelo trânsito paulistano, hoje é cerca de 20% menor que em 2014.
Em nota, o Detran (Departamento de Trânsito) diz que desenvolve constantemente políticas públicas que aumentem a segurança viária e promovem conscientizem a população. “Foram realizadas 14 campanhas educativas desde o início de 2023”, afirma.
As mortes de pedestres, tema da última campanha (lançada no último dia 17), entretanto, só foram menores no primeiro semestre que a de pessoas que estavam em motocicletas -do total, 700 pessoas morreram quando estavam à pé em São Paulo, quase quatro por dia, em média.
Na capital, ocorreram 192 mortes de pedestres. Tanto no estado quanto no município, o número desse tipo de vítima foi maior em 2024 que em 2023.
Na tentativa de conter os atropelamentos, a Prefeitura de São Paulo diz ter implantado áreas calmas (em que a velocidade máxima é de 30 km/h) e 12 mil faixas de pedestres, além do aumento do tempo de travessia em mais de mil cruzamentos na cidade.
“Se não houver fiscalização, não haverá respeito à faixa de pedestre. Essa fiscalização pode ser feita com câmeras ou com pessoas”, diz Avelleda, “Apenas investir em campanhas educativas não será suficiente para conter esse crescimento”, afirma.
Os motociclistas são as principais vítimas do trânsito. Quase 1.250 pessoas morreram em acidentes com motos em São Paulo no primeiro semestre de 2024.
No caso da capital, pilotos e garupas de motos são responsáveis por quase metade dos óbitos no trânsito, com 45% do total (236 casos).
Em nota, a prefeitura cita a implantação da faixa azul, projeto que está em avaliação e, segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), reduziu a gravidade de acidentes com motociclistas que usam os mais de 145 km de sinalização já instalados nas ruas e avenidas da cidade -serão 200 quilômetros até o fim deste ano.
“Também foi proibida a circulação de motos nas pistas expressas das marginais e implantadas mais de 700 frentes seguras”, diz a prefeitura. “Além disso, a CET promove cursos de educação de trânsito voltados para motociclistas e motofretistas.”
A administração municipal afirma ainda que a maioria dos sinistros de trânsito, principalmente os mais graves, é resultado do desrespeito à sinalização e às leis de trânsito. “Dentre as infrações, a que gera consequências mais graves é o excesso de velocidade.”
Também em nota, o Detran diz que os valores arrecadados com multas são revertidos em ações para segurança de trânsito e aquisição de equipamentos.
“Em 2023, foram R$ 364,5 milhões do Fundo de Multas para educação, conscientização, fiscalização e melhorias da segurança viária”, afirma trecho do texto. “A arrecadação é também repassada aos municípios, por meio do programa Respeito à Vida, atualmente em 586 cidades.”
O órgão estadual de trânsito também diz fazer fiscalizações para flagrar motoristas que beberam antes de dirigir, e que houve aumento de 99,3% das abordagens nos últimos seis meses.
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