(FOLHAPRESS) – Pesquisadores do projeto Baleia Jubarte comemoraram no catamarã quando avistaram, no começo deste mês, uma baleia-jubarte fêmea nadando com o filhote no mar do Rio de Janeiro. Foi a segunda vez que viram um filhote na costa fluminense.
A espécie passa o verão na região antártica, mas, quando as temperaturas por lá caem, no meio do ano, migram em busca das águas quentes do Nordeste brasileiro para se reproduzir.
Elas buscam o Brasil, segundo biólogos, porque desejam que os filhotes aprendam os primeiros movimentos em mares menos gelados. A viagem de cerca de 4.000 km pode durar até dois meses.
Durante este período de reprodução, grupos de competidores machos emitem cantos para agradar a fêmea. Pela estimativa dos pesquisadores, o filhote identificado no mar do Rio é carioca de nascimento.
Uma jubarte recém-nascida pode alcançar 4 metros de comprimento e até 1 tonelada. O crescimento é rápido –ganham cerca de 20 kg por dia, graças ao leite materno rico em gordura. As adultas chegam a 16 metros e 40 toneladas.
O Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, no extremo sul da Bahia, é o destino mais comum das baleias para acasalamento e abrigo.
“O Rio, assim como São Paulo e Espírito Santo, faz parte da rota migratória do animal. O filhotinho nasce na água quente e cresce para voltar às águas geladas”, afirma o biológico Guilherme Maricato, pesquisador do projeto Baleia Jubarte.
A cada temporada de migração, elas têm aparecido em maior número no Rio de Janeiro. Com o fenômeno, embarcações anunciam passeios turísticos pela costa fluminense para avistá-las –uma vaga chegar a custar até R$ 600.
Quem dá a sorte de encontrar os animais pode se deparar com performances impressionantes. Elas saltam e mergulham de cabeça, de costas, com o peitoral. Colocam para fora d’água a cauda e as nadadeiras.
O projeto Baleia Jubarte calcula que o fluxo migratório pela costa brasileira aumentou de mil indivíduos, em 1988, para 30 mil atualmente. O crescimento está associado à proibição à caça das baleias, determinada em 1986 pela Comissão Internacional das Baleias, da qual o Brasil faz parte.
Até a assinatura da moratória à caça, países permitiam a extração do óleo de baleia para lubrificar máquinas, impermeabilizar paredes e produzir combustível para iluminação pública. As barbatanas eram retiradas para a confecção de espartilhos, a carne era consumida e os ossos triturados eram usados como massa na construção civil.
Em 1996, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) definiu normas de proteção da espécie, como a proibição de se aproximar de baleias com motor engrenado a menos de 100 metros, persegui-las, interromper o curso de deslocamento e produzir ruídos excessivos.
Em 2014, o Ministério do Meio Ambiente retirou as jubartes da lista oficial de espécies ameaçadas no Brasil.
“O trabalho científico e de conscientização do projeto Baleia Jubarte contribuiu com a resolução”, afirma Gregório Araujo, gerente de projetos ambientais da Petrobras, patrocinadora da iniciativa.
O programa faz parte da Rede Biomar, que reúne institutos brasileiros de conservação marinha financiados pela estatal. Segundo Araujo, o braço socioambiental da Petrobras apoiou, em 2023, 20 projetos de oceano e 23 de floresta, investindo, no total, cerca de R$ 65 milhões. O plano da estatal é subir para R$ 100 milhões o financiamento de projetos de conservação ambiental a partir de 2025.
O aumento da presença de jubartes na costa brasileira auxiliou no desenvolvimento das pesquisas científicas sobre a espécie. Quando há uma aparição no mar, pesquisadores usam câmeras de longo alcance, cronômetros e drones para identificar a cor e o formato da cauda, o tamanho, a capacidade de permanecer debaixo d’água e o comportamento da jubarte.
A proximidade da costa também traz riscos para a espécie, como a poluição, as redes de pesca deixadas no mar e a passagem de embarcações.
O principal desafio das jubartes, contudo, é a mudança da temperatura dos oceanos, que desarranja o fluxo migratório.
“A água da região da linha do Equador tinha uma temperatura média de 28°C, ideal para algumas espécies de mamíferos aquáticos. Mas subiu para até 31°C nos últimos anos. Aquela temperatura ideal, de 28°C, ela só vai encontrar aqui na costa brasileira, que antes tinha média de 25°C e também subiu”, afirma Maricato.
O aquecimento dos oceanos é uma das consequências das mudanças climáticas provocadas pelas atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás, e o desmatamento.
“Espécies acostumadas com os extremos, como água muito gelada, e que vivem em regiões que estão aquecendo ficam ainda mais prejudicadas. Ou vão se extinguir ou vão se adaptar”, diz o pesquisador.
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